Obrigado
às/aos amigas/os que deram sugestões de pauta, ooops, reflexões para minhas
tergiversações. Acabei pegando um item que se complementa ao anterior, sugestão
de um querido amigo que não mora no Brasil e que, inclusive por isso, tem uma
visão muito interessante sobre alguns assuntos de nosso cotidiano. Ele me
sugeriu falar sobre preconceito e discriminação dentro dos próprios grupos já discriminados,
neste caso, os LGBTQIA+, mais especificamente os gueis.
Acho
que, pra começar, é interessante lembrar que os preconceitos existentes fora
dos grupos muito comumente se repetem dentro deles, pois os comportamentos são,
muitas das vezes, não pensados.
O
chamado "meio gay" costuma ser muito discriminatório. Seja você
gordo, feio, pobre, com trejeitos femininos, mal vestido (para estes
determinados padrões) pra ver. Se "morar mal", então, é muito mais
complicado. A ditadura da beleza parece sobrepor-se de modo que ou você faz
parte e é uma barbie (preconceituosamente generalizando), com um corpo supersarado,
com grifes saindo pelos olhos e ouvindo música eletrônica (se vier com drogas
junto, melhor ainda), ou você simplesmente não faz parte, é a poc-poc, a
pão-com-ovo...
Aí
tem o outro lado, daqueles que sempre procuram alguém que seja "ativo,
discreto e fora do meio", ou que se passam por donos dessa característica
pra conseguirem alguém. Acho esse jargão o mais interessante representante do
preconceito existente, porque traz todos os medos contidos: ser passivo,
"dar pinta" e fazer parte do gueto em que muitos se encontram. Pior
do que ser gay (e, pfvr, solicito o modo de ironia ligado durante todo o
texto!) é parecer gay. O sujeito é minuciosamente investigado durante todo o
tempo para que não se pareça gay, ou melhor, bicha, viado, feminino,
efeminado/afeminado, baitola e toda sorte de nomes pejorativos (ou não) que lhe
são imputados. Quer ofender um homem? Xingue sua mãe ou diga que ele é gay...
Ah,
pode ser gay, mas não precisa mostrar pra todo mundo. Ah, eu respeito, mas não
precisa ficar se agarrando na minha frente (lembrei do episódio do taxista
contando pra Samanta Schmutz, todo orgulhoso, que bateu num casal gay). Ah, o
cara até pode ser gay, mas não precisa ficar desmunhecando. E não precisa ficar
contando pra todo mundo... Gente, as pessoas são o que são e como são. Precisam
ser respeitadas por serem pessoas. Aí, dentro do próprio meio, que já sofre
tanto preconceito em cada ato, ainda há os que discriminam seus pares.
Existe
um quadro famoso do Paulo Gustavo cujo mote é "Aqui no nosso grupo, você é
a mais afeminada!". Ele faz graça com a desgraça, exatamente apontando o
que ela tenha de pior. Aliás, muitos gays fazem graça com a própria desgraça o
tempo todo, até pra dar conta. E não venha me dizer que todo gay é engraçado,
ou que todo gordo também o é: o que acontece, muitas das vezes, é que esta seja
a maneira que a pessoa encontra para tirar de si a atenção negativa que uma tal
característica represente. Eu sou o primeiro a contar piada de preto (Olhaê o
próprio negro se discriminando, ó!), justamente para não ter que ficar fulo da
vida com você que fez isso "sem sentir".
E
isso vai até no próprio sexo em si. Vocês já pararam pra pensar sobre como o
intercurso sexual rebaixa o outro, em muitos casos? O tal do "vale tudo
entre quatro paredes", se é que é real, perde a sua essência quando o seu
prazer é com o desprazer real do outro. Sexo é para os dois (ou três, ou
quatro, enfim) terem prazer. Sexo é para se dar e oferecer prazer,
reciprocamente. Se só você está tendo prazer, tem algo errado aí.
E,
pra terminar, quero falar da frase que era pra ser título, mas que acabei
deixando como um dos temas, apenas: o problema é a mulher! (Solicito novamente
o modo de ironia ligado!) É óbvio que, até no meio em que se deveriam respeitar
mais ainda as individualidades, para se ter força, o feminino, a mulher e o que
se lhe aparenta são discriminados. O gay passivo é discriminado porque é quem
se oferece ao outro; o gay pintoso é discriminado porque se parece com mulher;
o gay "do meio" não posa de machão e por isso pode fazer com que
todos ao seu redor sejam expulsos do armário, lugar muito confortável (ou não).
As
meninas que fazem programa (e que têm pipiu, ainda que meninas) confirmam: 90%
dos homens que pagam por sexo com elas querem é ser passivos. E são casados. E
são pais de família (aquela família tradicional do post anterior). E tem até os
que fantasiam que elas são mulheres com pênis. No Brasil, país que mais mata
LGBTQIA+ no munod.
Pois
bem, não consigo ser tão conciso. Tem sempre muito a ser falado. Os gays
discriminam as lésbicas que discriminam os gays que discriminam os bissexuais
dizendo que eles não têm coragem de se assumir. Nesse arco-íris sexual e de
gênero, alguém lá pode discriminar alguém? Alguém tem direito de não olhar para
o próprio umbigo antes de falar do outro? Mas ser masculino, bem dotado (ah, o
mito fálico), ativo exclusivo faz o sujeito achar que pode, reproduzindo tudo o
que acontece lá fora, fazendo com que até quem deveria estar junto se afaste.
Mais
uma vez conclamo: bora olhar pro nosso próprio pé antes de julgar o pé do
outro?
Nenhum comentário:
Postar um comentário