terça-feira, 15 de novembro de 2011

Meia branca, Deus e gente preta...

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Abaixo as meias brancas!

Então, a praga das meias brancas é insólita, e aparece em qualquer lugar, onde menos se espera, inclusive. Meia tem que combinar com o sapato! Ou com a calça! E ponto final. A não ser que você tenha aquela moda hype, que seu senso fashionista (palavra usada em inglês agora, assim, em todas as revistas dos EUA) permita que você use meias vermelhas ou verdes só pra dar aquele destaque, ou que você esteja, de fato, usando calça e/ou sapato branco (e seja da área da saúde, s'il vous plait!), é proibido usar meias brancas. Pior ainda é o povo que descobriu que se devem usar meias curtas, aquelas que só protegem o pé do tênis (!), mas se esqueceram de que elas são feitas pra se usar com shorts ou bermudas. Porque, de novo, manda a etiqueta que não se deve mostrar a canela (ou qualquer parte da perna) quando se senta, no caso de se estar usando calças (a referência é KALIL, Glorinha). Enfim, o cidadão abaixo exemplifica tudo o que não se deve fazer neste aspecto, pois conseguiu cometer os dois erros ao mesmo tempo.

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Há algum tempo, uso meias azuis, que combinam com o jeans. Tem gente que não gosta, mas, aí, sim, é questão de estilo. Desde o ano passado, ando brincando com minhas meias listradas, e acho superlegal. Agora, vocês não sabem o que é garimpar pra achá-las, porque você chega às lojas e tem aquele mooooooooonte de meia branca, um terror. Nos EUA é pior ainda! Mas dá pra se dar um jeito. Isso se você quiser, claro, porque, se você não gosta de etiqueta, isso não é problema algum. Adequar-se pode ser uma opção. Continue usando meias brancas com roupas pretas, que nem o finado Michael Jackson – vai que um dia você vira star!

 

"Sobre Deus"

Quem é Deus? Ou, quem são Deus? Homem, mulher, menino, Jesus, uma energia cósmica, uma conjunção de fatos, um mecanismo de controle, uma crença incrustada para manter uma linha de sanidade... Adorei ver Deus sendo feito por Whoopi Goldberg e por Alanis Morissette, porque aí tira todo aquele élan sobre quem e como seja(m) Deus. "Morreram Cacilda Becker", já disse Drummond.

Dia desses falávamos sobre Deus. E vejam que estou sempre grafando em inicial maiúscula, porque estamos falando DA divindade, e não dos deuses que temos por aí, porque não vou me delongar ao falar da moda (!), da tevê, do dinheiro, do sexo, do cigarro, da bebida... e de Michael Jackson também. Então, e falávamos sobre como é fácil acreditar em Deus, e também em como não é fácil. É tão tangível e tão palpável para uns, e tão distante para outros. Questão de fé. E fé é algo tão complicado de se falar sobre. Sem contar a deusa ciência, que também é uma própria religião (minha querida professora Tânia Marques falava dos cientistas e teóricos, cada um em sua igrejinha, mas isso é papo para outro post) que não permite resultados incontestes. Enfim, esse intróito todo é pra falar que Deus é muito mais. Morro de dó (lembrando que dó é substantivo masculino, né!) d'Ele quando O invocam pra tudo. Eu falo pr'um povo aí que Deus tem mais o que fazer do que ficar fazendo Atlético ou Cruzeiro ganharem, tem um monte de avião no ar pra ele proteger, e Ele é muito mais do que ficar tomando conta de nossas comezinhas vontades que levam a nada, que Ele é mais! Acho muito interessante quando as pessoas percebem Deus em tudo e em todos e, sim, pelo que aprendi, Ele está em qualquer lugar. Mas o que me mata é quando o povo coloca no carro que é "Presente de Deus", e aproveitam o que Ele lhes deu de maneira tão inapropriada, sendo mal educados no trânsito, parando sobre as faixas, não dando preferência aos pedestres, enfim, aviltando o presente que Ele tão bondosamente lhes teria dado. Dia desses me deparei com o automóvel abaixo, que não fez nada de errado no trânsito, mas que me incitou a pensar um pouco sobre como as palavras se tornam vagas, por vezes; inclusive o uso de Deus. Alguém consegue me explicar o que quer dizer o escrito aí???

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Black is beautiful!

Loiro, lindo e japonês que sou, J , há muito tempo fico prestando atenção em como a questão da posição do negro é vista nos diferentes lugares das sociedades. Sim, temos (e vejam que me incluo nisso) preconceito contra negros. Quem nunca atravessou a rua ou pegou a bolsa com mais firmeza quando viu dois negões vindo na direção oposta na calçada da rua vazia? Ou quem nunca soltou uma piada preconceituosa do gênero "Só podia ser preto!", ainda que só de brincadeira? E não estou aqui para julgar ninguém sobre isso, principalmente porque, negro beiçudo que sou, nem posso falar sobre tal assunto assim, somente.

Worney, você já sofreu preconceito? Sim, várias vezes.

Uma vez, em uma festa do Theo, colunista social aqui de Moc City, acharam que eu era garçom, e olhem que foi quando eu fui homenageado – eu tava de smoking, meio parecido com o terno preto dos garçons, então, tinha que ser garçom, porque preto ali naquela festa da high society... A nobre perua me perguntou se eu podia servi-la de algo, ao que eu, espirituosamente preparado naquele dia (sim, temos que ter preparação para isso, vocês nem creem!), disse que também estava procurando o garçom, e ela, claro, morreu de sem graça.

Os olhares dos seguranças (em sua maioria negros, claro!) quando eu entro na H. Stern, minha joalheria preferida, são diferentes. Uma vez, fui super mal tratado na extinta e iconizada Zoomp, sem nenhuma indicação do porquê, e quase os processei; e olhem que eu estava num dia gastarino... O dia de passear em BH no Diamond Mall, onde eu me sentiria super bem com o ar de chiquesse de que tanto gosto, tem que ser de preparação, da melhor roupa, do colírio (alergia ao ar condicionado - olhos vermelhos - preto marginal). Quando eu morava em São João del-Rei, a gente usava touca, mas quem disse que eu mantinha a touca na cabeça quando chegava a BH? Preto - marginal – touca...

Quando eu tinha 8 anos, a gente ia pra escola de ônibus, uma tribo super mix e, com vistas de hoje, politicamente correta e inclusiva (ou quase o Tchan): eu, a loira Dany e a morena (branca de cabelos negros) Flávia. Ainda que com 8 anos, éramos pequenos, e saltávamos a roleta, como todos os estudantes à época. Sim, já estávamos errados, mas fazíamos isso todos os dias, e ninguém nunca reclamou. Um belo dia, lá foi Dany, lá foi Flávia e, quando Worney ia, o trocador não deixa Worney passar. Instala-se um burburinho, com direito a Worney dando escândalo, chorando, gritando... Descemos no ponto, ligaram pra minha mãe e, pobre coitado, "não sabia com quem estava lidando!", acabou na rua. Alguém pode dizer que não foi por causa disso, mas eu era o único negro, e do mesmo tamanho das meninas, pois era pequeno quando criança.

Um belo dia, uma pessoa próxima, quando falei sobre preconceito contra negros, virou pra mim e disse, "Não, Worney, você não é negro, você é moreninho!"... Moreno o escambau! Como se ser preto fosse problema. As formas de expressão do preconceito são bem essas.

É claro que temos que refletir sobre coisas como descrever aquela "loirona boazuda" não é ofensivo e aquela "negona boazuda" soa pesado; falar aquele moreninho é "melhor" do que falar "aquele neguinho"; chamar o cara de "negão" até que não, porque "negão – grandão – et ceterão" consegue ser melhor do que o "loirão". Anderson Silva, o mais novo ídolo brasileiro, que o diga! Minha irmã Cris deu uma festa pra mim, e falou pros porteiros que eu era irmão dela, e eles ficaram sem entender, e ela disse, "Sim, um negro, ele mesmo!"... É maluco como as pessoas têm até medo de dizer "aquele negro"... Que louco!

No colégio, na faculdade, nunca tive problemas diretos com isso, porque sempre fui bom aluno e isso "compensava". Na vida profissional, caso isso aconteça, "é lá pras nêga deles", porque parece ter afetado quase nada. Na vida em geral, uso óculos escuros porque gosto, mas também pra ficar atento e, discretamente, evitar situações causadas pelo preconceito velado que impera. Ah, e um lugar em que nunca sofri preconceito foi em aeroporto. Acho que eles entendem que não vale à pena. Nem antigamente, quando os aeroportos brasileiros eram mais glamurosos e aí éramos bem menos os pretos por lá, só diplomata...

Mas o fato é que preconceito contra raça é parte dele, porque o preconceito real é sobre grana, bufunfa, dinheiro. É um preconceito contra pobre, é a situação econômica, porque não creio que haja preconceito contra o Pelé ou o Alexandre Pires por eles serem negros. Aliás, uma coisa: sempre param pretos dirigindo carros chiques nas Blitzen (plural alemão de Blitz, e grafado com inicial maiúscula; em português correto, "nas blitzes" ou "nas blitz", assim, invariável; mas é só pra fazer gênero) – por que será? Aliás 2, eu sempre falo "Deve ser o motorista", quando vejo um preto dirigindo um carro caro... Eu, preconceituoso? Never! Voltando, pelo histórico da situação do negro no Brasil, fim da escravidão, etc, claro que as populações descendentes de escravos não tiveram as mesmas oportunidades diante da vida econômica. Há brancos pobres? Muitos. Mas vejam a quantidade de gente branca representando pobre em qualquer campanha na mídia: quase zero.

E ainda há a pergunta sobre o, onipresente neste post, Michael Jackson, se ele queria mesmo ficar branco. Interessante como ele se encaixou nos três temas…

Então, fazendo leitura desse preconceito e do (chato do) politicamente correto, fico sempre analisando as propagandas, os informes, as capas dos livros (incluindo os do CNA, lógico), numa patrulha para saber como os 40% declarados da população, aqueles das 43 denominações de negro que vão de "marrom-bombom" até "cor de jambo", são representados. Muitos estão fazendo isso direito, em outros casos, meio que soa falso e forçado. É claro que é bom que tenhamos protagonistas negros (e ricos, diga-se de passagem, né, Thaís Araújo) e pessoas negras inseridas em contextos de suposta normalidade, para que a própria população negra se veja de maneira diferente, positiva. Não sou a favor de sectarismos e odeio essa coisa de uma melhor do que a outra: todas as raças são iguais, ou melhor, é tudo raça humana...

Juro que ainda não me acostumei com a família negra e feliz na propaganda do banco. Juro que não me desceu o negro não famoso falando sobre as oportunidades de crescimento do negócio X. Não me acostumei, não digo que não gostei. E mais engraçado é que, nos EUA, não senti nada de estranho. Talvez porque, como já falei pra muita gente, meu querido Caetano já retratou há muito como os yankees lidam com tais coisas: "Para os americanos, branco é branco, preto é preto e a mulata não é a tal / Bicha é bicha, macho é macho, mulher é mulher e dinheiro é dinheiro / E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se, concedem-se, conquistam-se direitos / Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime / E dançamos com uma graça cujo segredo nem eu mesmo sei / Entre a delícia e a desgraça, entre o monstruoso e o sublime "... Esta é parte da canção "Americanos", e acho que Caê tem um bocado de razão. Não é questão de certo ou errado, mas de não mascaramento. Tem muita coisa estranha na terra do Tio Sam, mas acho o máximo ver aquelas mulheres negras com seus cabelos magníficos todos trabalhados no étnico, os negões com aquelas roupas (que eu jamais usaria) de rapper com direito a boné virado e calça no meio da bunda. Eles valorizam o que é a cultura negra, e isso tá ótemo pra eles. A gente é miscigenado assim mesmo, tudo junto e misturado. Isso é bom? Parece que sim, porque aí a gente tem mais tolerância, mas, por vezes, a gente escamoteia mais, e isso é o que é complicado.

Falei isso tudo inspirado na foto abaixo, que achei linda, e que traz gente normal, negra, preta, parda, afro-americana (odeio isso!), como queiram, porque o nome faz diferença para alguns e não para todos, mas o que importa é a beleza. Aquela beleza do viver. Aquela beleza chamada de beleza interior. Aquela beleza que nem todos os olhos são capazes de captar. Aquela beleza negra, porque "Black is beautiful!"

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Ósculos e amplexos brancos e negros! A Paz dos céus esteja convosco! Bom feriado!

Um comentário:

Anônimo disse...

Wuuu... seu blog é incrível! Super envolvente! Fui lendo, lendo, lendo e queria mais! hahahaha!
Bjooos.
Renata Cambuy.