Bem, como não é segredo pra maioria, minhas sensações porteñas não foram das melhores. Houve muita coisa boa, e outras nem tanto. No começo tava osso, mas depois a gente vai relaxando, como em quase todo momento da vida, né, já diria Marta.
Fiquei de fazer um resumo do que realmente pensei, e deixei pra depois de conseguir refletir um pouco mais, distanciar-me, conversar com algumas pessoas, enfim.
Muitos disseram que eu era o primeiro a não gostar de BsAs, mas acabei encontrando pessoas que foram e também não gostaram, e outras que entenderam que foram a lugares turísticos, simplesmente, e que quando se vive o lugar a coisa muda um pouco de figura.
Como já disse, o que gostei de verdade foram as pessoas que me cercaram (minha host family, meus colegas e o povo que trabalha na escola), os precinhos camaradas (ok, a fatura acaba de chegar, quase tenho um ataque...), o charme do meu metrô (quando não estava apertado na hora do rush), um povo muito mas muito bonito que via por lá, e acho que paramos por aí. País decadente, uma língua muito brega (perdónenme, pero es lo que pienso... y con el "sh" solo se queda peor...), antes se achavam a Europa da América do Sul e agora mal se sustentam, uma presidente louca que não foi pra China pra não deixar o vice no lugar dela (dizem os locais que ela desistiu porque descobriu que lá não tinha loja da Louis Vuitton), mendigos e pedintes ou "vendedores informais" em todos os lugares, algumas pessoas roubadas... Bem, muito disso tem em qualquer lugar do mundo, mas muitos, talvez a maioria, dos que adoraram não chegaram a ver isso, daí, acho que não é só meu alto índice de criticidade, mas uma visão mais crítica da realidade, ou talvez até o contato com o mundo real, já que eu tinha vida de portenho, e não de turista brasileiro na Argentina somente.
Mis queridos compañeros de clase: Márcio, yo y Ciro (profesor); Brendha, Lourdes, Adina, Tiago y Maria José.
Enfim, pra arrematar o assunto. Aprendi muito, e acho que é isso o que se leva da vida. Foram momentos ótimos com Catarina, e com meus outros amigos, claro – com Nick os mais engraçados. Foi aprendizado de español que, sim, continuarei achando brega, ou "grasa" como aprendi por lá, mas que é superválido. Foi até aprender que "blooper" pode ser "mico" em inglês. Querem saber o que mais foi bom?
O lado A de BsAs
- Descontos por dia por cartão ou com promoções. Essa parte claro que achei boa, porque beneficia o cliente. Exemplo, na 3ª, o cartão Citi ganha 10% de descontos; na 4ª os aposentados têm 15%; você ganha tíquetes promocionais para outros dias, e coisas assim.
- Mc Café funciona em todos os McDonald's, aliás, dezenas deles pela cidade
- Perfumes e roupas de marca boa por preço muito bom, em várias farmácias e lojas, não somente nas da própria marca. E os outlets têm preço igual aos das lojas. E as lojas dos shoppings não têm preço diferente.
- Muitas livrarias, e enormes, vocês viram as fotos, e sempre tem o povo lendo no subte, ainda que estivesse lotado. Aliás, subte é corruptela de subterrâneo, como metrô é de metropolitano...
- Junto com o cafezinho, sempre vem um docinho e água, aliás, como nos bons cafés do mundo, menos no Brasil.
- Antes da comida, sempre tem pão de antepasto. Em alguns lugares até cobram...
- Wi-fi na maioria dos lugares. Segundo alguns experts, é a cidade mais wi-fizada do mundo...
Bem, tenho dito que daria nota 6 pra viagem. Passa-se com 7 nessa escola. Mas aí resolvi mudar pra uma escola em que se passa com 60%. Motivos pra nota cair? Vide abaixo.
O lado B, aka "Coisas de português":
- Escadas rolantes não fazem sentido. Elas não funcionam como no Brasil ou em outros lugares do mundo. Acho que nunca vi 3 começando juntas como lá.
- Água caindo dos aparelhos de ar condicionado no meio da rua. Essa, além de os aparelhos não ficarem de acordo com fachadas que seriam históricas (vide foto, no detalhe central; clique sobre a foto pra aumentar), os portugueses deixam aquela aguinha cair no meio da rua, em cima dos cabelos planchados ou dos ternos recém-passados, né... O fim da picada.
Faixa de pedestre com sinal verde, mas os carros passam. O sinal fica aberto pro pedestre, mas os carros que vão convergir podem fazê-lo... Só que eles esperam. Será que não seria melhor dar um tempinho pros pedestres e outro pros carros?
- As mulheres não fazem escova no cabelo, fazem brushing. Mas no McDonald's tem é McPollo, e não McChicken...
- O povo se pega pra beijar na rua, mas na boite quase não o fazem. Saí na noite e o povo mal se beijava, mal dava bola ou se dava ficavam fazendo cudoce, mas na rua vimos cada cena... Sem contar que o nome de boite é lá é boliche... E o boliche de verdade? Boliche, também...
- Eles fazem “liquidãçao”. Não, você não leu errado. Vide álbum.
- Vendedores às vezes são amabilíssimos, em outras são amaríssimos. Parece até que se está em outro país. Não há leis que protegem o consumidor e reclamar não costuma dar em nada. Ainda bem que há exceções, e até ganhei brindes com isso...
- Vinho mais barato que refrigerante. Pagam-se $8 por uma gaseosa e $15 por um vinho tinto seco malbec de 750ml... Alguma conta mais precisa ser feita???
- Os pratos, por vezes, são só alguma carne, e nada mais. Não é que eu sinta falta de arroz e feijão, mas só carne, aff. Ah, e são batatas (patatas, papas, e muitos nem sabem explicar a diferença), muitas batatas de tudo quanto é jeito em tudo quanto é restaurante.
- Ninguém descobriu direito como é que se paquera aqui, porque o cara fica seduzindo a moça, que fica fingindo que não, que não, que não...
- Tatuagens, as mais estranhas são nas pernas, e piercings, a maioria na região da boca, aos montes.
- Cabelos superestranhos, com direito a muito rabo à la jogador de futebol, e roupas super-nada-a-ver. E não é só o lance cultural, não, breguice mesmo...
- A tetrachave é duplachave, e os elevadores são do tempo do onça.
- O tal do "vos" no lugar do "tu" é, de fato, muito doido. As conjugações são diferentes no presente do indicativo e no imperativo, o resto é tudo igual. Mas hein?!
- Pouca polícia na rua, exceto na Plaza de Mayo (onde está a Casa Rosada), porque lá todo dia tem piquete...
- Um banco em que se manda entrar, para fazer câmbio, somente por uma entrada, e depois você roda o banco inteiro e acaba saindo por outra porta completamente diferente - deve ser pra ver como o banco, sem detector de metal, é imponente.
Só pra constar, algumas coisas, pra explicar pra quem não entendia a lógica, eu dizia: "Não, gente, é porque aqui em Portugal é asssim!"
Ósculos e amplexos, que a vida volta ao normal.